quarta-feira, 23 de outubro de 2013

E por que é que ela fica?

Ontem uma amiga e colega de "labuta" partilhou comigo um vídeo que me deixou a pensar! Em viagem de trabalho que mais se parece com as merecidas férias de sua vida, lá do Brasil, vai me enviando fotos de baianas, acarajés e pão de açúcar, a rir de meu infortúnio. Mas redimiu-se, e para provar que também está a investigar, enviou-me o vídeo que trago abaixo, espetacular, sobre violência doméstica.
 
Há muito queria escrever sobre violência doméstica, sobre a importância de alertar as pessoas acerca de assunto tão delicado! Mas não queria que fosse um texto puramente técnico, aborrecedor; queria que fosse algo que nos tocasse a todos, profundamente. Basicamente, sobre as questões jurídicas, todos sabem que a violência doméstica é criminalmente prevista, e como tal, passível de punição. Em Portugal, a conduta é descrita no Código Penal (art. 152º); e no Brasil, possui legislação específica, a Lei Maria da Penha. Numa análise ligeira, parece-me que a diferença principal entre os dois ordenamentos jurídicos é que, em Portugal, a violência doméstica tanto pode ser perpetrada por homem contra mulher como o inverso; já no Brasil, a Lei Maria da Penha visa proteger exclusivamente as ofendidas, independentemente de sua orientação sexual e, segundo posições mais atuais,  alcançando as transexuais. Quando a violência doméstica for praticada por mulher contra homem, a conduta será punida em face do Código Penal brasileiro. Afora isto, é importante dizer que há muitas formas de violência doméstica, incluindo a física, a sexual, a psicológica, a económica e a moral. E que a violência doméstica pode vitimar crianças, jovens, adultos e idosos, pessoas casadas ou não, que coabitem ou não, ricas ou pobres. Ou seja, qualquer pessoa, normalmente em situação de vulnerabilidade, pode ser vítima de violência doméstica.
 
E foi exatamente isto que aconteceu a Leslie Morgan Steiner, uma escritora norteamericana, licenciada pela Universidade de Harvard, com um bom emprego, casa própria, mas que, aos 22 anos de idade, caiu perdidamente de amor e casou-se com o homem que lhe batia, humilhava e tentava contra a sua vida. É difícil para uma pessoa distanciada dessa cruel realidade compreender a razão que leva alguém a insistir numa relação amorosa com quem lhe maltrata. Leslie explica, que apesar de tudo, não sabia que estava sendo maltratada, era por isto que ficava. Achava-se forte, apaixonada por um homem problemático e sentia que era a única pessoa que lhe podia ajudar. Perguntada, por que não o abandonava, somente por fim Leslie compreendeu que também era por medo. "É extremamente perigoso deixar um agressor... porque aí o agressor não tem nada a perder". Depois, quando se tem filhos, é doloroso para uma mulher deixá-los passar "tempo não supervisionado com o homem que batia na mãe deles". Digo-lhes, que muitas vezes, fica-se também porque não se sabe para onde ir; fica-se por vergonha; fica-se porque se está doente de amor.  
 
Leslie diz que somente conseguiu acabar com a negação em que se encontrava quando percebeu que o homem que tanto amava iria de fato lhe matar, se ela deixasse. Então decidiu acabar com a sua louca história de amor rompendo o silêncio e esta também foi a forma que encontrou de ajudar outras pessoas. Quebrar o silêncio, contar para toda a gente o que se está a passar, pedir e aceitar ajuda, é a única maneira de acabar com a violência. Nas palavras de Leslie, "os maus-tratos crescem apenas com o silêncio". Hoje Leslie refez a vida, voltou a casar com um homem amável e gentil e têm juntos três filhos, um labrador preto e um monovolume. Segundo afirma, o que nunca mais terá, "nunca mais, é uma arma apontada à cabeça por alguém que diz amar-[lhe]".
 
Por isso, sentida com a história de Leslie, achei que era a altura certa para dedicar algum tempo a este tema, já que a violência doméstica, se não nos afeta, pode não estar longe de nós. Neste instante, pode estar a afetar alguém de nossa família, de nosso trabalho e até mesmo a nossa melhor amiga. Para Leslie, é preciso intervir, de forma consciente, tão logo se reconheça os primeiros sinais de violência, fazendo-a diminuir. E ela sabe o que diz, é uma sobrevivente. Assim, para finalizar, conclamo as palavras da própria Leslie: "Juntos podemos fazer das nossas camas, das nossas mesas de jantar e das nossas famílias, o oásis seguro e perfeito que devem ser".
 
Vejam o vídeo!
 
 
      

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